Yokohama Kaidashi Kikou

Chamar Yokohama Kaidashi Kikou de um slice of life, pode parecer meio errôneo, algo como cake of life sendo que os morangos desse cake são slices of life e os morangos dessas slices são recheados de mono no aware e com um granulado de sci-fi por cima, parece mais certo.

Obras de slice of life, acabam não tendo um plot em si, afinal todo ideal por trás delas é mostrar a vida de uma personagem, interagindo com diferentes pessoas, mostrando o mundo a sua volta e simplesmente conhecendo aquela personagem.

Nada é mais “character-driven” do que um slice of life, às vezes existe algo acontecendo com o mundo a sua volta, ou algo lhe aconteceu para colocá-lo nessa situação, mas mesmo que exista isso, no final o foco vai ser voltado para o simples dia-a-dia daquela personagem, ou um grupo delas.

Com isso dito nada fala mais slice of life do que Yokohama, claro, tem outras obras fantasticas como Yotsuba&, que apesar de acertar em cheio no gênero, é mais uma jornada, afinal, cada capítulo é a Yotsuba conhecendo algo novo, visto o título.

E outras como Aqua/Aria que acabam usando as mesmas características que Yokohama, apesar de que, em um nível pessoal, acabo achando o segundo superior, mas, sem nunca tirar o crédito do primeiro; apenas que tomar um café com a Alpha, acaba sendo mais gostoso que andar de gôndola com a Akari.

O mundo sofreu algum tipo de catástrofe, nunca é dito qual, mas se entende que foi algo ambiental e o nível do mar subiu consideravelmente, até para inundar completamente certas cidades. O restante da civilização se juntou em algumas cidades e pequenas vilas, onde a grande maioria das pessoas já é de idade, e aceitaram o destino do mundo, vivendo uma vida pacata.

Nesse mundo pós-apocalíptico em um lugar bem isolado, em um pequeno café, vive Alpha Hatsuseno, uma andróide, que continuou cuidando desse mesmo café, enquanto o dono, muitas vezes referido como Dr. Hatsuseno, saiu em uma viagem.

Assim mostrando o dia-a-dia dela, cuidando desse café, saindo nas suas próprias viagens e fazendo varias amizades e simplesmente vivendo sua vidinha, e isso bem literalmente, tem vários capítulos onde à mostra apenas tomando um café, ou tocando sua moon harp.

Uma das características do autor, Hitoshi Ashinano, é a narrativa visual, usando muito pouco ou quase nenhum diálogo, claro que tem partes com um diálogo expositivo, mas a grande maioria, e onde o manga brilha mais, é feita apenas pelas expressões e movimentos e principalmente pelo cenário.

Não se tem um plot, mas tem bastante evolução, não da para falar o número exato de anos que se passa, mas eu chutaria em torno de 20 ou até mais, por ser um andróide imortal, isso não pode ser visto na Alpha, mas sim ao seu redor, com as pessoas crescendo e até o mundo se transformando.

Falando nessas outras personagens, temos um punhado de personagens secundárias, alguns jovens que vemos crescer, alguns já idosos com histórias para contar e até outros andróides; maioria sendo “fêmea” e com um a mais para os fans de yuri, onde elas tem que se beijar para transferir informações.

Um ponto que vale a pena realçar é a arte, sabe quando tem aquelas páginas que você sempre para tudo e as contempla? Vendo algo grandioso, que essa mídia  faz muito bem? Não tem um volume, que não tenha páginas assim, que mostram o quão imenso o mundo é, e ao mesmo tempo o quão solitário.

Falando em solidão, apesar de no geral dar um impressão bem feliz e descontraído, é uma obra com um imenso peso nesse sentimento, e não usando monólogos falando o quão sozinha ela está, apenas no jeito do olhar e as ações, ou até a falta delas, você sente, e compartilha a solidão dela.

Se eu tivesse um problema com o manga, e entenda problema como “Eu tenho tanto dinheiro que não sei no que gastar” ou “Com tantas garotas para ficar eu não tenho tempo para mim” esse tipo de problema, é o mundo e os mistérios.

O mundo criado, e os mistérios levantados são tão bons, dão tanta curiosidade, que quando eles não são respondidos, acaba ficando um vazio, mas, o foco nunca foi neles: de como o mundo acabou, o que é esse objeto voador que fica passando pelos céus, quem é a Misago e muitos outros.

Pistas são dadas, mas é deixado para o leitor decidir o que é verdade e o que não é e o que cada um dos elementos é. Como disse, não é um problema em si, mas algo que gostaria muito que fosse um pouco explorado, mas pedir isso seria pedir para a obra ser o que ela não é.

Certas obras nos fazem sentir algo, Oyasumin Punpun nós faz sentir deprimido e nostálgico; Tengen Toppa Gurren Lagann, empolgado e invisível; Toriko com fome; o maior sentimento, se você pode chamar isso de sentimento, que Yokohama da é o da calmaria, após ler, a única coisa que dá vontade de fazer é ficar parado, olhando pela janela, sem se preocupar com nada, e talvez tomar uma xícara de café enquanto você não faz nada.

Yokohama Kaidashi Kikou com certeza absoluta é o meu manga favorito, não importa quantas vezes eu leio, continua bom, apesar de tudo isso, não recomendo a todos, como falado, se você gosta de uma história boa, não vai achar isso aqui, quase não vai achar uma história, mas se quiser o pináculo dos “character-driven” e com uma das melhores personagens femininas por ai, vá ler.

Alguns comentários rápidos sobre o anime. Foram lançadas quatro ovas, duas em 98 e duas em 2002, bem distintas uma da outra, cada uma contando alguns capítulos soltos do manga, que por sua natureza episódica, acaba não sendo um problema.

Eu acabei não gostando muito, não teve o mesmo impacto que o manga, mas de nenhum jeito ruins, um dos pontos bons é a ost, com varias musicas acústicas que combinam perfeitamente com a obra.

Se você é uma daquelas pessoas que não lê manga, recomendaria pelo menos ver as ovas, se você é uma daquelas, leia escutando a ost, não tem como errar.